domingo, 1 de julho de 2012

Esmola da discórdia

*Por Isis Coelho

"Eram 6h30 da manhã e eu já estava a pleno vapor, dentro de um ônibus rumo a faculdade. Sou daquelas pessoas irritantes, que acorda de bom humor, querendo abraçar o mundo e sorrindo para todas as pessoas que cruzam meu caminho.

Mas neste dia eu estava na minha, lendo um livro qualquer, que prendia totalmente minha atenção até uma moça entrar no ônibus e sua choradeira me tirar do mundo da fantasia. Ela demorou alguns minutos para se acalmar e começar a falar.

Com a mão na barriga, explicou que estava em São Paulo a pouco menos de uma semana. Tinha chegado com o marido para tentar a vida na cidade grande, mas uma grande tragédia tinha impedido um começo feliz. Logo na chegada, eles foram assaltados e diante da recusa do marido em entregar as malas, os assaltantes balearam o moço - que não resistiu e morreu. E eles levaram as malas.

Para deixar a história ainda mais desesperadora, a mocinha havia descoberto que estava grávida. E, sem dinheiro para nada, estava a beira de ficar louca de tanto desespero. Queria a família - que também estava tentando juntar as economias para levá-la de volta à terra natal.

Aquela história partiu meu coração. Abri a carteira e entreguei, sem dó, os únicos R$5 que tinha. Ela  agradeceu as contribuições e desceu do ônibus. Era aparente o desconforto das pessoas que tinham presenciado a cena. Que tragédia, que tragédia mais triste!

Passei o dia pensando naquela moça, torcendo para que ela conseguisse arrecadar dinheiro suficiente para que pudesse voltar para o aconchego da família.

O tempo passou e eu esqueci daquele rosto, que me tocou profundamente. Certo dia lá estava eu de novo, no ônibus. E eis que ela entra de novo, chorando do mesmo jeito, contando a mesma história. Eu não conseguia acreditar no tamanho da CARA DE PAU daquela pessoa. Pô! Se quer dar o golpe, seja mais inteligente: Faça em horários  e em linhas diferentes.

Quando eu vi o senhor ao meu lado tirar 10 paus da carteira eu levantei e fui direta:

"Ninguém dá dinheiro para essa golpista aí. Faz um mês que ela entrou no ônibus e contou a mesma história. Eu dei o dinheiro que tinha na carteira para ela e, o pior, fiquei torcendo para que ela pudesse ter uma gravidez tranquila depois de tanta tragédia. Desce desse ônibus minha filha, se você não quiser levar um chute na bunda".

E ela desceu.
E todo mundo ficou olhando para mim. 
E eu nem liguei de passar por louca.

Tudo bem pedir dinheiro. Desde que não me engane e não me faça de idiota. Prefiro que seja sincero e diga que o dinheiro é pra pinga. E tenho dito."



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